quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Os cravos não foram para todos...




A geração que nasceu parva ora porque não esteve lá ("Onde estava no 25 de Abril?"), ora porque não teve o tempo de vida suficiente para ter direito a voz e voto. Aqueles que não souberam o que estudar porque o futuro do País não passava por projecto, ideia ou inovação, mas por assegurar cadeiras e Bancos. E os que o, bem, fizeram tinham (têm) como alternativa a ser 'escravo', a adesão a um cartão partidário ou a uma Ordem correspondente.

Adiados num País onde aos 35 anos se é velho para trabalhar. Num País dirigido e decidido por esses que ainda hoje não cedem os seus lugares, apenas abrindo condescentemente janelas de oportunidade de curto prazo, e que ainda hoje permanentemente se garantem com disciplinas partidárias, recorrentemente se recandidatam e ganham, porque os 'parvos' não se reconhecem... Ou então, porque estes últimos não são ainda em número suficiente, de tão velhos que já estamos e pior a ficar, sem renovar o sangue e a adiar filhos e maridos, pois que os carros estão ainda por pagar. E os mais ousados, ou desesperados, melhor se identificam fora deste Portugal e ficam já só os que apenas sabem dar mérito a talentos se passarem nos programas da TV.

Obtivemos fundos e mundos que se esgotaram em alcatrão e betão, esquecendo portos marítimos, vias ferroviárias, campos agrícolas e barcos de pesca. Descurou-se o Ensino Público e qualidade da educação, bem como a sua democratização, apostando antes na comercialização do ensino universitário, fazendo das Universidades 'melhores' as mais caras, para melhor capitalizarem e servirem as elites. Desdenhou-se a regionalização por alegadamente se temer a divisão interna, mas que na verdade iria era partir organismos e gabinetes de administração local cujos elencos directivos são nomeados ao invés de serem eleitos... Prefere-se antes concordar com um acordo ortográfico como se fosse esse um ponto de união entre nós e os outros, mesmo que se acabe com a origem fidedigna da nossa identidade.

Mas a saudade por quem caiu da cadeira na altura em que isto começou e a saudade de um paternalismo que nos desencoraje e desresponsabilize de iniciativa autónoma e da consciência cívica e social ainda nos leva a dar maioria absoluta a quem julga saber de nós pelos jornais que lê e que assim nos responde ou aconselha, guardando-se nas esferas restritas dos que a ele o aconselham e sugestionam com as decisões tomadas sem nos ouvirem. Nem nos damos conta que continuamos a ensinar nas escolas apenas a História até à data em que os cravos foram apenas para alguns e a memória recente é demasiado ofuscada para não ser lembrada quando se coloca uma cruz. 

Chamaram-nos rasca e inconsciente - também os que são administradores e gestores das grandes empresas, públicas ou privadas e com assentos parlamentares, que constatemente acenam as bandeiras da crise para assustar tanto os que estudam como aqueles que não o fazem, pois a muitos lhes caberá ou serem escravos do sistema por eles instaurado ou mal ou não remunerados. Agora dá-mo-nos a ser levados por parvos porque deixamos que nos dissessem que não somos bons o suficiente.

Embora que até para ficar sem trabalho, (sem direito a participação construtiva e activa na sociedade), seja necessário estudar, mais sorte ainda terão aqueles que não tiverem de trabalhar para estudar. E, na verdade, mais nos vale prosseguir ao menos na ambição de adquirir conhecimento que assim ficar-se-á mais apto para não se deixar tomar por parvo. 

...
          A geração que veio depois... 

                                                         ...que de facto às vezes parece a mais parva porque apesar de mais jovem já deveria ter visto que isto dura à tempo demais...

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